Quarta-feira - 15:50h
Olho pela janela e o sol brilha tanto que parece um sussurro de chamamento. Acedo ao convite. Agarro no meu livro que parei de ler há imenso tempo, procuro os óculos de sol e pego na minha mala. Saio vestida de fato de treino para me sentir mais liberta e entro no carro. Ocorre-me o som do mar e do doce bailar das ondas. Decido ir até à praia da Nazaré. Chego depois de uma viagem de 30 minutos e avisto o mar iluminado pelo sol, o mesmo sol que momentos antes me havia convidado com raios de luz sedutores.
Piso o areal húmido e levemente marcado por pegadas de outros caminhantes como eu e caminho em direcção ao mar. As ondas enrolam-se num agitado bailado, o mar acompanha com acordes de um envolvimento cúmplice e eis que tenho à minha frente o cenário ideal para me perder nas palavras. Sento-me na areia e abro o livro na página marcada. Em poucos momentos fujo do tempo e do espaço e sinto-me em comunhão com aquele mar, aquele sol e aquele livro. Enleio-me no casulo das palavras e saboreio como que uma metamorfose... ganho asas.
À volta tudo se desvanece.
Durante cerca de duas horas da minha vida, não existe mais nada além de mim, o mar, o sol, o areal e aquele livro que pousei nas minhas pernas.
Sinto paz, sinto calma.
Sorvo uma lufada de ar com aroma a sal e sinto-me bem.
Sorrio para o sol que me seduziu e agradeço estar viva.
Sorrio para mim, sorrio para a vida.